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quinta-feira, 28 março 2024

Moradores da Vila Xapinhal dão importante passo rumo às escrituras

Quando o prefeito Gustavo Fruet assinou, em outubro passado, o decreto de aprovação da Vila Xapinhal foi encerrada uma espera de 27 anos por parte da comunidade local. Contudo, o ato foi apenas o início do trabalho da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) para titular os 1.738 lotes. Nesta semana as primeiras famílias compareceram à Cohab e entregaram a documentação necessária para elaboração do contrato.

Caso do operador de produção Sérgio Skrada, de 31 anos. Ele, a esposa Inglith, de 26 anos, e a filha Letícia, de 5, foram juntos levar a documentação para finalmente realizarem o sonho da casa própria. Morador do Xapinhal há mais de 20 anos, Sérgio ficou com a casa deixada pelos pais falecidos. “Eles não tiveram a felicidade de em vida ver nosso terreno legalizado. Mas tenho certeza que de onde estiverem eles ficaram tão alegres quanto nós”, disse.

Qualificação

Já na semana seguinte à assinatura do decreto, uma equipe de técnicos do serviço social da Cohab passou a percorrer a vila casa por casa, na etapa chamada qualificação das famílias. “É um procedimento muito trabalhoso, mas fundamental para escriturar os terrenos, pois possibilita sabermos se a família que está ocupando o lote é a mesma que consta no cadastro da Companhia, além de outras informações importantes”, explica o presidente da Cohab, Ubiraci Rodrigues

Após mais de dois meses de visitas domiciliares, todas as famílias foram identificadas e informadas sobre os documentos que deveriam providenciar para que o registro do lote seja encaminhado em nome dos moradores. Em seguida, cada família agenda por telefone uma data para a entrega da documentação necessária à elaboração da escritura.

Até o início de fevereiro já estão agendadas 173 famílias, o que representa 10% do loteamento. Na ocasião da entrega dos documentos eles são informados dos valores a serem pagos, de acordo com as medidas de cada terreno. “As condições para a legalização dos lotes já foram garantidas pela Cohab e Prefeitura, agora deve partir dos moradores a iniciativa de resolver cada situação particular”, destaca Rodrigues.

Valor justo

O pedreiro Maurilio Cavanhe, de 52 anos, e a esposa Sônia, de 47, estavam entre os primeiros a comparecer para entregar a documentação solicitada. Moradores do Xapinhal há 16 anos, eles não participaram da ocupação original e sim compraram o lote de outra pessoa. “Compramos por falta de outra opção, mas sempre tivemos medo de não conseguir a escritura. Hoje é um dia muito feliz. Da nossa casinha ninguém mais tira a gente”, comemora.

Pelo terreno de quase 200 metros quadrados eles vão pagar R$ 33 mil. O contrato de financiamento será assinado em uma próxima etapa, quando escolherão a maneira de pagar e o número de prestações. “Achamos o valor justo. Não queremos nada de graça, queremos pagar pelo que é nosso”, afirma Sônia.

O líder comunitário Sebastião Maria Oliveira ainda lembra de quando chegou ao Xapinhal. Junto com a esposa Maria José Oliveira e os três filhos pequenos, o mais novo com 8 meses, ele não teve dúvidas que seria ali o lugar onde fixaria residência e criaria os seus filhos. Em 5 de agosto de 1991, ele e outras dezenas de famílias realizaram a segunda etapa da ocupação da vila. “Chegando aqui no bairro, montei uma meia-água e na semana seguinte trouxe minha família. Aqui criei meus filhos e moro no mesmo terreno até hoje”, lembra com emoção.

Morador da Rua Marte, famosa pelo seu forte comércio do bairro Sitio Cercado. “Olho ao redor da minha casa hoje em dia e é difícil acreditar como tudo isso mudou nas últimas duas décadas. Aqui no bairro nós temos muita coisa a nossa disposição”, completa.

Presidente da Associação de Moradores 5 de Agosto do Xapinhal, Sebastião também estava entre os primeiros a entregar a documentação. “São muitos anos de espera, agora que estamos pertinho de resolver a situação, a ansiedade é ainda maior. Só não é maior do que a felicidade de ter o lote em meu nome”, afirma.

Histórico

Os primeiros moradores chegaram ao local em outubro de 1988 e montaram barracos de lona em uma área de 385 mil metros quadrados cortada pelo arroio Cercado. No início eram 300 famílias, mas em menos de um mês o número já passava de 2 mil.

As dificuldades eram enormes pela falta de saneamento e água tratada. Apenas uma torneira comunitária abastecia mais de 8 mil pessoas. Essa ausência de infraestrutura tornava comum a ocorrência de diarreia nas crianças. Algumas não resistiram e acabaram morrendo.

Com o passar dos anos os investimentos do poder público levaram infraestrutura para a comunidade, que ainda aguardava uma solução para a regularização fundiária. Agora os moradores do Xapinhal podem se sentir totalmente inseridos na cidade formal.

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EDIÇÃO IMPRESSA Nº 116 | MARÇO/2024

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