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quinta-feira, 28 março 2024

Professora da rede municipal disputará prova de canoagem na Paraolimpíada

professora paralimpiada2A professora da rede municipal de ensino de Curitiba Mari Cristina Santilli, de 38 anos, vai representar o Brasil na equipe feminina de canoagem durante os jogos paraolímpicos no Rio de Janeiro, em setembro. Atleta da Seleção Brasileira Paraolímpica, Mari é a 7ª colocada no ranking mundial da categoria e participa de uma Paraolimpíada pela primeira vez. A vaga para a competição foi conquistada em maio deste ano durante a Copa do Mundo de Canoagem Velocidade, realizada em Duisburg, na Alemanha.

Mari Santilli disputará na categoria KL3 Feminina, na prova de velocidade de 200 metros, remando sozinha em caiaque de duas pás. Para conseguir o resultado, foram meses de preparação, treinos diários, alimentação adequada, em dedicação exclusiva para a competição. Para isso, Mari abriu mão das aulas de educação física que ministra na Escola Municipal Rio Bonito, no Campo de Santana, onde começou sua carreira no magistério municipal.

Mari está em licença sem vencimento, treinando na Confederação Brasileira de Paracanoagem no Centro de Treinamento da USP, em São Paulo. Em uma visita recente à família em Curitiba, fez questão de voltar à escola para dividir os bons resultados com alunos e colegas de profissão. “A vaga está conquistada, é nossa, e eu vou representar cada um de vocês naquele campeonato”, disse Mari aos estudantes.

Conquistar a vaga era um compromisso assumido pela professora desde o momento em que se licenciou da escola. “Gosto de ser professora e me ausentei me comprometendo a trazer essa conquista para a rede de ensino. Penso ser uma forma de mostrar aos meus alunos o que uma pessoa com deficiência é capaz de fazer”, diz Mari.

Mari Santili teve perna esquerda amputada há dez anos, após ter sofrido um acidente de moto. A professora havia recém ingressado no magistério municipal por meio de concurso público, e estava lecionando havia 48 dias. Mesmo com a possibilidade de remanejamento para outra função administrativa, Mari retornou depois de seis meses de tratamento para os pátios da escola, para atividades cheias de movimento e energia com os estudantes nas aulas de educação física. “Nunca pensei em deixar de ser professora, foi para o que eu me preparei”, diz Mari.

A paratleta visitou a Rio Bonito no mesmo dia que a escola recebeu exemplares do Gibi Poético – Um olhar sobre os Jogos Olímpicos -, elaborado por meio de parceria entre a Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência, da Educação e Comunicação Social. Além do bate-papo com as crianças sobre a preparação para a competição, Mari acompanhou o início das atividades com o material.

“Por meio do conteúdo do Gibi, alunos e professores poderão trabalhar a inclusão, além ser de uma oportunidade de conhecimento e inspiração para a vida”, disse a secretária municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Mirella Prosdócimo.

Cartas

Assim como acontecia durante suas aulas, Mari mostrou a prótese de titânio que usa e explicou como um atleta com deficiência faz para competir. Estudantes da turma do 5º ano aproveitaram o momento para entregar cartas escritas a partir de uma das atividades propostas pelo Gibi Poético. “Sou uma aluna da Escola Municipal Rio Bonito e desejo que todos os paratletas brasileiros tenham muita sorte na Paraolimpíada”, escreveu a estudante Izabelly dos Santos Lopes.

O texto foi feito durante a aula de arte, a partir de uma proposta do Gibi, e mediada pela professora Laurinha Witti. “O material é muito rico e nos permite fazer um intercâmbio entre esporte, direitos humanos, artes e demais áreas do conhecimento. Os personagens são muito adequados e enchem as crianças de curiosidade, estimulando-os à discussão de questões relacionadas ao respeito e a acessibilidade”, disse Laurinha.

A aluna do 5º ano Ana Luiza de Oliveira Bezerra da Silva, de 9 anos, aprovou a ideia e gostou de rever a professora Mari. “Achei bem bacana o Gibi, tem histórias, ilustrações e mostra o que a professora Mari sempre nos ensina: é possível qualquer pessoa com deficiência praticar esporte e até chegar a uma paraolimpíada assim como ela chegou”, contou Ana Luísa.

O estudante Danilo da Cruz, de 10 anos, também gostou do Gibi. “O Gibi mostra e incentiva que as pessoas com deficiência não podem desistir dos seus sonhos. Nós temos um exemplo que é a professora Mari”, destacou Danilo.

Os 12 personagens que compõem o Gibi são crianças com deficiências e que participam de esportes adaptados. As atividades e sugestões possíveis a partir do gibi são indicadas por um Encaminhamento Pedagógico que está disponível para o professor no Portal Cidade do Conhecimento da Secretaria Municipal da Educação.

Iniciar as atividades do Gibi Poético na escola com a presença da professora paratleta deu ainda mais significado aos trabalhos. “É um material que serve como um importante apoio pedagógico em todos os componentes curriculares. De forma lúdica, explora o respeito às diferenças e prepara nossos estudantes para agirem como sujeitos de direitos, nos ajuda a criar cidadãos melhores, a construirmos nestas crianças mais do que conhecimento, mas também virtudes para a vida”, disse a diretora da escola, Denise Giraldelli.

Valores olímpicos

O Gibi Poético foi distribuído para todos os estudantes das turmas de 4º e 5º anos, das 185 escolas municipais. “Os materiais reúnem encaminhamentos nos nove componentes curriculares com encaminhamentos metodológicos com base nas Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental e embasados nos três valores olímpicos: excelência, amizade e respeito, e nos quatro valores paraolímpicos: determinação, coragem, inspiração e igualdade”, explica a secretária municipal da Educação, Roberlayne Borges Roballo.

As sugestões apresentadas nos materiais irão subsidiar a elaboração de atividades para que as escolas desenvolvam no Dia Olímpico na Escola, evento que acontecerá em 23 de junho, data em que se comemora mundialmente o olimpismo, em todas as escolas municipais.

“É um material que contextualiza o paradesporto e oferece múltiplas possibilidades de trabalho pedagógico com os estudantes a partir deste tema, estimulando novos conhecimentos e a inclusão”, disse Mari.

O Gibi Poético contempla um dos eixos de atuação do Plano Municipal de Políticas de Acessibilidade e de Inclusão para a Pessoa com Deficiência – Plano Curitiba + Inclusiva. No eixo Educação Especial e Inclusiva, uma das ações para o biênio 2015-2017, destaca a garantia de prática de adequações pedagógicas e flexibilizações curriculares nas salas de aula a todos os estudantes com deficiência da rede municipal de ensino.

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EDIÇÃO IMPRESSA Nº 116 | MARÇO/2024

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