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sexta-feira, 19 abril 2024

Serviço especializado garante atendimento adequado a estudantes superdotados

Agitação, desinteresse e isolamento nem sempre são sinais de dificuldades na aprendizagem. Pelo contrário, estudantes com estas características podem ter tanta facilidade em dominar conteúdos específicos e de apreensão mais sofisticada que se desinteressam pelos assuntos do dia a dia da escola. Considerando esse perfil de estudante, caracterizado como aquele que têm altas habilidades ou superdotação, a Prefeitura mantém cinco ambientes especiais chamados salas de recursos para altas habilidades/superdotação, locais que ele passa a frequentar depois de diagnosticado.

Estas salas nada convencionais funcionam nos Centros Municipais de Atendimento Educacional Especializado (CMAEEs), que funcionam no Pinheirinho, Centro e Portão e são equipadas de acordo com os projetos a serem desenvolvidos com os estudantes. Os dois primeiros contam com duas salas cada um e o último, com uma. Cada sala pode receber 20 pessoas, o que resulta na oferta de 100 vagas para estudantes com altas habilidades/superdotação (ou AH/SD).

O funcionamento das salas é inteiramente custeado pela Prefeitura. Os atendimentos são semanais e, dependendo do projeto a que cada estudante esteja vinculado, o atendimento pode durar de 50 minutos a 1h30.

Para ser incluído neste serviço, a criança precisa estar matriculado numa das escolas da rede municipal e passar por uma avaliação especializada.

Para a professora do Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) Elizabeth Carvalho da Veiga, os espaços representam a oportunidade de “revelar talentos que possam contribuir para a evolução da humanidade”. A especialista explica que o estudante se sentirá desafiado a transformar toda a sua energia e curiosidade em algo que, aprimorado pode ter um significado social importante no futuro.

Entre astros e estrelas 
Antônio Gonçalves Dutra, de 10 anos, é um dos alunos do CMAEE Maria do Carmo Pacheco (no Centro, na Regional Matriz) atendido em uma das salas de recursos. Estudante do 5º ano da Escola Municipal Maria Clara Brandão Tesserolli (no bairro Novo Mundo), na sala de recursos ele faz o que mais gosta: pesquisar e produzir informação sobre astronomia. Com a ajuda da professora Karin Vanessa Ribeiro Pinto, o menino materializa suas ideias na forma de maquetes e apresentações em power point.

“Também sei desenhar e estou fazendo esses mangás para animação. Quero publicar no youtube”, conta ele. “Quando o Antônio chegou aqui, no começo do ano, era fechado, bravo e não tinha amigos. Já fez dois amigos com interesses variados como os dele”, diz a diretora da unidade, Jordana Souza Sehnen Alves. “Nossa preocupação, aqui, também é que esses estudantes deem atenção às áreas em que apresentam dificuldades, para que não se isolem e tenham um desempenho satisfatório na escola.”

Além de dirigir a unidade, cabe à Jordana e às demais diretoras e equipes dos CMAEEs visitar escolas e verificar a necessidade de uma avaliação formal para os estudantes. As visitas são determinadas por demandas das equipes locais. Das cerca de 200 crianças investigadas por mês por essas equipes, entre 3 e 4 são encaminhadas para avaliação especializada e apenas uma recebe o diagnóstico de altas habilidades/superdotação. Todas as avaliadoras têm especialização na área.

Canalizando talentos 
Hoje com 17 anos, Richard de Araújo Santos do Nascimento frequentou o CMAEE Maria Cândida Fankin Abrão, no Pinheirinho, entre 2010 e 2013, quando sua família se mudou para Fazenda Rio Grande.

Agora ele cursa o Ensino Médio profissionalizante em Meio Ambiente na Escola Estadual Anita Canet. Faz o curso à noite, conta, para poder usar melhor o dia em atividades como correr, jogar basquete, fazer estágio em uma entidade de coletores de resíduos sólidos, dar palestras sobre meio ambiente em escolas e já ir preparando o projeto de conclusão de curso, em 2018, sobre compostagem.

Na semana passada, Richard voltou à unidade para rever a antiga sala de recursos e a professora Leila Márcia da Silva. “Aqui aconteceu a mudança que fizeram em mim. Foi o local que me entendeu, me aceitou, me deixou ser eu mesmo e aprender mais sobre o que eu gosto”, resumiu o rapaz, que chegou a tomar medicamento prescrito para casos determinados de pacientes com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).

Segundo ele, foi no CMAEE que recebeu o direcionamento necessário para canalizar toda a sua energia criativa e produtiva e fazer aprendizados que vai levar para a vida. “Aqui eu aprendi a aperfeiçoar a oratória, fiz contato com a robótica, com o teclado e entendi que queria estudar teatro e instrumentos musicais”, completa o estudante, que também já decidiu que fará Ciências Biológicas na faculdade para se tornar professor.

Serviço é referência
A forma como está organizado o serviço de atenção a estudantes com altas habilidades/superdotação atrai a atenção de outras prefeituras e também de profissionais autônomos ligados à Pedagogia e à Psicologia. Recentemente, por exemplo, o Departamento de Inclusão e Atendimento Educacional Especializado da Secretaria Municipal da Educação recebeu a visita de dois psicólogos independentes de Joinville (SC).

O motivo da visita, explicaram Patrícia Volpato e Hudelson dos Passos, são os inúmeros contatos recebidos de famílias de crianças e adolescentes com características de AH/SD de fora da rede pública de ensino. “A cidade não dá conta desse público e isso está nos preocupando”, observou Passos. Segundo Patrícia, o objetivo da visita foi ter uma ideia aproximada sobre o que considerar na criação de um serviço semelhante – algo inexistente inclusive entre os serviços públicos da cidade catarinense.

Como saber se a criança é superdotada?
Só profissionais especializados em avaliação voltada para Altas Habilidades/Superdotação poderão confirmar. “Pessoas assim não podem ser identificadas por uma característica física ou por um modo de se portar, ainda que os filmes costumem apresentar o nerd como o menino de camisa xadrez e óculos”, frisa a professora Elizabeth Veiga, da PUC/PR.

Antes que o diagnóstico seja feito, converse com os professores do seu filho ou filha e observe a ocorrência de alguns dos seguintes sinais indicativos:

– brinca, mas prefere atividades que aguçam sua curiosidade intelectual;

– apresenta desenvolvimento superior para a sua fase de desenvolvimento: é o caso do bebê que anda ou fala antes da época usual e da criança que é precoce na leitura ou  se expressa muito bem verbalmente;

– domina uma habilidade que não lhe foi ensinada: ele aprendeu sozinho a ler ou escrever, desmonta e monta equipamentos ou demonstra uma habilidade artística surpreendente;

– é curioso e faz perguntas – muitas e elaboradas – sobre fatos e pessoas do seu meio;

– tem o pensamento acelerado: está sempre adiante no raciocínio sobre um tema em debate.

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EDIÇÃO IMPRESSA Nº 116 | MARÇO/2024

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