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terça-feira, 19 março 2024

Unidade que atende moradores de rua vira espaço teatral

O Centro POP João Dorvalino Borba, equipamento da Prefeitura de Curitiba que atende pessoas em situação de rua, transformou-se em palco de apresentações teatrais de companhias que participam do Fringe, evento que integra o Festival de Curitiba deste ano. O primeiro espetáculo aconteceu nesta segunda-feira (03/04), e outras três apresentações já estão programadas (ver programação). Na platéia, cerca de 60 usuários que diariamente buscam o equipamento em busca de serviços, como alimentação, higiene e atendimento social.

A supervisora da Fundação de Ação Social (FAS) da Regional Matriz, responsável pelo Centro POP João Dorvalino, Lidiane Oliveira Bonamigo de Sousa, explica que a ação visa levar a arte para a população que frequenta os Centros POP, que é formada por pessoas, a maioria homens, com idade entre 18 a 59 anos.

A apresentação desta segunda-feira contou a história de Neco e Nica, ex-artistas de circo, que são tomados pelas emoções da infância, da lembrança de seus pais e da precipitada saída de casa. A peça, encenada pela Cia GiKlaus de Teatro, de Curitiba, é uma adaptação do livro homônimo de Francisco Cândido Xavier, e busca estimular a platéia a valorizar a vida, refletindo sobre o papel da família e da fraternidade.

Nilson Torres da Cunha, 45 anos, assistiu atento à apresentação. Cuidador de carros na região central da cidade, Cunha contou que esta foi a primeira vez que assistiu a uma peça. “Foi ótimo, muito divertido”, resumiu.

Há três semanas, Cunha frequenta os equipamentos vinculados a Prefeitura.  Ele dorme no Lar Boa Esperança e, pela manhã e à noite, toma café e janta no Centro POP João Dorvalino. Segundo ele, os dois locais lhe oferecem condições de sobrevivência.

Wilson Alves da Silva, 40 anos, também gostou da peça teatral. Ele contou que o teatro já fez parte de sua vida, quando ganhou uma bolsa para participar de um projeto de evangelização, que lhe permitiu conhecer 17 estados brasileiros. “Quando me preparava para viajar para o Chile, tive uma recaída, e tive que deixar o projeto”, contou.

Nascido em Jesuítas, na região Oeste do Estado, Silva mora há 20 anos em Curitiba. “Tenho família, meu pai mora no litoral de São Paulo, e tenho duas irmãs em Curitiba. Sei que o ser humano precisa do vínculo familiar, mas prefiro viver nas ruas.” Ele se diz vítima do que chama o “mal do século”, as drogas, que o levaram a cinco internamentos, sem sucesso.

Oficina de sucata

A ideia de levar os espetáculos para dentro do Centro POP João Dorvalino surgiu porque a unidade já desenvolve o projeto “Reinvento, logo existo – oficina sucata e arte”. Oferecido voluntariamente pelo artista Edson Naindorf, o projeto utiliza sucata para a construção de bonecos que são usados nas artes cênicas. Ao todo, 20 usuários do espaço participam da oficina.

“Este projeto busca promover ações de expressão e protagonismo para seus usuários, uma população que é invisível para grande parte da sociedade”, explica a educadora social Denise Baroni, autora do projeto. “É uma tentativa de oferecer um elemento que contribua para a transformação deste público tão carente de tudo, não apenas de bens materiais, mas também de vínculos, esperança e sonhos.”

Centro POP

O Centro POP João Dorvalino Borba faz parte dos equipamentos da FAS para atendimento às pessoas em situação de rua. A unidade, que está localizada na rua Visconde de Guarapuava, 2674, centro da cidade, atende diariamente cerca de 60 usuários com serviços de guarda de pertences, alimentação,  higiene pessoal e atendimento social.

No espaço as pessoas em situação de rua podem tomar café da manhã, almoçar e jantar, este último servido em parceria com organizações não governamentais e sem limite de número de pessoas. Durante o dia, eles podem ainda participar de atividades, como artesanato, reforço escolar, xadrez, digitação, arteterapia e leitura. Curitiba tem hoje cinco Centros POP.

Programação dos próximos espetáculos

Terça-feira (04/04) – 10 horas

Espetáculo Toda Vez Que Ele Passa, Vai Levando Qualquer Coisa Minha…, da companhia Delirivm Teatro De Dança, de São Simão (SP)

História de um grupo de pessoas que esperam o trem em uma estação. Cada uma traz consigo um pouco de sonhos, desejos e esperanças.  Sem texto falado, as ações e cenas vão surgindo de coreografias, gestos e movimentos.  Seriam pessoas abandonadas em um vilarejo, fantasmas predestinados a vagarem pela estação?

Quarta-feira (05/04) – 9 horas

Espetáculo A Estória do Homem Que Vendeu Sua Alma ao Diabo e Quase Perdeu o Seu Amor, do Grupo Teatral Gota, Pó e Poeira, de Guaçuí (ES)

Severo, negro, pobre e apaixonado pela donzela Felícia, filha do rico e preconceituoso coronel, tenta pedir a mão da ‘’bonequinha de milho’’, mas é recebido à bala. Depois de rogar para todos os santos, eis que lhe aparece o diabo disposto a dar-lhe o que deseja em troca de sua alma.

Sexta-feira (07/04) – 10 horas

Espetáculo O Caixeiro Viajante ou o Vendedor de Ilusões, da associação cultural Ogawa Butoh Center, de São Simão (SP)

O espetáculo tem como personagem central o ator, que trabalha com linguagem corporal, bonecos de diversos tamanhos e técnicas variadas para contar a história da princesa transformada em sereia de forma lúdica, mágica e poética.

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EDIÇÃO IMPRESSA Nº 114 | JANEIRO/2024

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