Campanha Pra Toda Vida, do Hospital Pequeno Príncipe, busca evitar que agressões marquem saúde e vida de tantos jovens. Casos de agressões atendidos pela instituição filantrópica mais que dobraram nos últimos dez anos
Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) revelam que o terrível cenário de agressões contra crianças e adolescentes tem caminhado para uma piora em todo o mundo. O Brasil acompanha essa realidade: a cada oito minutos, uma criança ou um adolescente sofre abuso sexual. São 200 crianças agredidas, por dia, no país.
De acordo com recente estudo divulgado pelo UNICEF e FBSP, 165 mil brasileiras e brasileiros de até 19 anos de idade foram vítimas de violência sexual entre 2021 e 2023. É o que aponta o Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil.
“As mortes violentas aumentaram 15,2% até os nove anos de idade; e a violência sexual cresceu, em particular, entre meninas e meninos nesta faixa etária. Entre 2022 e 2023, houve um acréscimo de 23,5% nos registros de estupro contra crianças de até quatro anos, e de 17,3% entre aquelas de cinco a nove anos de idade”, afirmam as duas organizações.
Tal quadro também se reflete em estatísticas do Hospital Pequeno Príncipe, que integra a Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente em Situação de Risco para a Violência de Curitiba (PR) e é referência nacional na assistência infantojuvenil em contextos violentos. Só em 2024, a maior e mais completa instituição hospitalar pediátrica do país atendeu 474 crianças de até 6 anos; dessas, 309 (65%) foram acolhidas por suspeita de violência sexual. A maioria das vítimas era menina, com casos graves envolvendo bebês de apenas 4 meses de vida.
Violência sexual foi o tipo mais frequente de agressão registrada pelo Hospital, ano passado, respondendo por 58% dos atendimentos. A maior parte dos agressores identificados era do sexo masculino (67%), e as meninas representaram 71% das vítimas. Além disso, 72% dos casos foram classificados como violência intrafamiliar, quando cometida por membros da própria família – a exemplo de pais, padrastos e irmãos – ou por pessoas próximas, como cuidadores.
Os casos de violência reportados ao Pequeno Príncipe têm, ainda, aumentado em frequência e gravidade. Quando considerados os últimos dez anos, o número de atendimentos mais que dobrou, passando de 378 em 2014 para 720 em 2024.
“Dados como estes indicam um cenário de violência mais intensa e vitimando seres humanos cada vez mais frágeis”, lamenta a diretora-executiva do Hospital, Ety Cristina Forte Carneiro, ao recordar um caso estarrecedor de uma bebê de apenas 29 dias, que foi violentada e precisou ser internada no Pequeno Príncipe.
“O cenário evidencia a necessidade de reforço em políticas públicas voltadas à proteção de crianças e adolescentes, de ampliação das redes de apoio às vítimas e de envolvimento de toda a sociedade nas denúncias. Toda e qualquer forma de agressão deve ser combatida.” Ety Cristina Forte Carneiro, diretora-executiva do Hospital Pequeno Príncipe
Mesmo ainda não tendo registrado atendimentos diretos por violência digital, o Hospital reconhece a gravidade também desse cenário. Por isso, para marcar o Dia Nacional de Enfrentamento à Violência contra Crianças e Adolescentes – lembrado em 18 de maio –, a instituição convidou especialistas à live “Seu filho está seguro? Violência digital contra crianças e adolescentes”. A conversa – realizada no último dia 15, sob a condução de Maria Fernanda Schneider, do Pequeno Príncipe – contou com a participação de Luisa Adib, coordenadora de Pesquisa da TIC Kids Online Brasil; Luciana Gusmão Abreu, coordenadora de Psiquiatria do Pequeno Príncipe; Angelita W. Silva, coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital; Karen Scavacini, psicóloga e CEO do Instituto Vita Alere; e Bianca Orrico, psicóloga da SaferNet Brasil.
Violência digital
A proposta da live foi levar orientações para pais e responsáveis, educadores, profissionais de saúde e poder público. A conversa também teve o propósito de empoderar crianças e adolescentes com informações que podem evitar o chamado cyberbullying: uso de tecnologia e das mídias sociais para intimidar, humilhar ou assediar pessoas. Esse tipo de violência costuma ter um alcance ainda maior que o do bullying, uma vez que ultrapassa as barreiras físicas, e é mais difícil de identificar-se o agressor.
Luciana Abreu observou os principais sinais de alerta para o cyberbullying. “Isolamento social e alterações comportamentais, como agressividade e irritabilidade”, pontuou a coordenadora de Psiquiatria do Pequeno Príncipe. Bianca Orrico orientou sobre como agir em casos de violência no ambiente digital. “Não responder às ameaças, bloquear o perfil agressor, conversar com um adulto de confiança e buscar ajuda do Conselho Tutelar, de uma delegacia de polícia ou do Ministério Público”, destacou a psicóloga da SaferNet Brasil.
Campanha
A live é uma das ações da Campanha Pra Toda Vida – a Violência Não Pode Marcar o Futuro das Crianças. Criada em 2006 para fortalecer o compromisso histórico do Pequeno Príncipe (há mais de 50 anos) com o acolhimento, a assistência, a prevenção e a proteção de crianças e adolescentes em situação de violência, a campanha tem a finalidade de mobilizar a sociedade em relação a esse problema. “Que é de todos nós”, destaca Ety Carneiro, observando os canais telefônicos para denúncias anônimas: 100 e 181.
Entre as iniciativas, o Hospital disponibiliza manuais voltados a profissionais da educação e da saúde com orientações sobre como identificar os casos de violência e quais os caminhos para inserir as vítimas no sistema de proteção. Conta, ainda, com dois livros direcionados ao público infantojuvenil – Nenhum Beijinho à Força e Nenhum Carinho à Força –, que ganharam nova edição neste ano.
“São ações possíveis graças ao apoio de investidores privados e de outros colaboradores financeiros que acreditam no trabalho e na capacidade mobilizadora de nosso Hospital”, ressalta a diretora-executiva do Pequeno Príncipe.
🚨 Nos últimos dez anos, o número de casos de violência contra crianças e adolescentes atendidos pelo Hospital Pequeno Príncipe mais que dobrou. Só em 2024, 65% das crianças de até 6 anos acolhidas estavam sob suspeita de violência sexual – inclusive bebês de poucos meses de vida. A maioria das vítimas é menina, e os agressores, pessoas próximas: pais, padrastos, irmãos, cuidadores.
📊 Os dados refletem uma dura realidade revelada por estudos do UNICEF e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública: ➡ a cada oito minutos, uma criança ou adolescente sofre abuso sexual no Brasil; ➡ entre 2021 e 2023, 165 mil pessoas de até 19 anos foram vítimas de violência sexual.
🧩 Para enfrentar esse cenário, o Hospital promove ações da Campanha Pra Toda Vida – a Violência Não Pode Marcar o Futuro das Crianças, que inclui acolhimento, capacitação de profissionais e mobilização social.
🔸 Neste mês, também abordamos outro tipo de agressão em crescimento: a violência digital. Em uma live especial, especialistas discutiram os riscos do cyberbullying e os sinais de alerta para pais, educadores e profissionais da saúde.
👊 Toda forma de violência precisa ser combatida – e isso exige o envolvimento de toda a sociedade. 📞 Denuncie: disque 100 ou 181. 💛 Apoie essa causa com a gente!