Quem cruza de carro o Rebouças hoje em dia, não imagina quanta história tem este bairro.
Para começar, o nome foi dado em homenagem aos irmãos engenheiros Antonio e André Rebouças. Antonio Rebouças concebeu o projeto da ferrovia para ligar os portos de Antonina e Paranaguá a Curitiba. Este projeto para a época foi considerado impossível, pois furar montanhas para escavar os túneis e os viadutos de grande porte como o São João (com vão de 130 metros de extensão e altura de 55 metros) tudo feito manualmente na picareta foi uma obra grandiosa, para não dizer épica, nos anos de 1870.
O engenheiro Teixeira Soares tocou a obra e empregou mais de nove 9000 operários tendo morrido na empreitada perto de 5000.
Esta pequena introdução serve apenas para ilustrar que as pessoas mais notáveis da engenharia e da técnica foram homenageadas com o nome de um bairro que na época representava o progresso e a modernidade, de Curitiba.
Este bairro foi batizado de REBOUÇAS. Ali se instalou o primeiro polo industrial de Curitiba. Bem próximo da estação ferroviária. Vale lembrar que a inauguração da estrada de ferro foi um grande avanço tecnológico, já que não havia automóveis, avião e nem caminhões. Tudo era transportado por carroças.
O perímetro do bairro é delimitado: da Rua Brigadeiro Franco, 7 de setembro até o Rio Belém seguindo até o Prado Velho, Rua Comendador Roseira, Rua Chile até fechar o perímetro na Rua Brigadeiro Franco.
Nas décadas dos anos 1930/40/50 este era o mais importante bairro, era o coração de Curitiba. Produzia riqueza e criava novos bairros.
Se me permitem farei relatos pessoais daquela época, principalmente das décadas de 40 e 50 quando o bairro esteve no auge.
A indústria se instalou próxima a estrada de ferro para facilitar a exportação de seus produtos. De memória cito algumas grandes indústrias:
CIA. FIAT LUX, produtora dos fósforos Pinheiros (o melhor de sua época). Diariamente entravam caminhões carregados de toras e saiam vagões carregados por milhões de palitos. A Fiat Lux na época empregava centenas de operárias.
Ainda na travessa Pinheiro tinha o ALMOXARIFADO DA CTN que posteriormente mudou-se para a rua Marechal Floriano, esquina com a rua Almirante Gonçalves. Tinham os depósitos da água OURO FINO, a INDÚSTRIA METAL MECÂNICA LANGER. Na Rua João Negrão tínhamos o edifício sede da RFFPSC TEIXEIRA SOARES, com centenas de funcionários, também tínhamos o QUARTEL DA SUBSISTÊNCIA com supermercado que atendia os familiares dos militares, o DEPÓSITO DE MATERIAL DE CONSTRUÇÃO CRUZEIRO, BENEFICIAMENTO DE ERVA MATE FONTANA e o peso pesado MATTE LEÃO também com centenas de operários e com trilhos que atravessavam a rua João Negrão e acessavam o interior da fábrica para carregamento dos produtos acabados. Na Getúlio Vargas a indústria de bebidas BRAHMA (desativada a poucos anos). Tínhamos o QUARTEL DA POLÍCIA MILITAR com centenas de praças e o grupo escolar SENADOR XAVIER DA SILVA, na Westphalen a ESCOLA TÉCNICA DE CURITIBA (antigo CEFET, hoje UTFPR), na Engenheiros Rebouças ainda uma grande indústria química fabricante da cera CANÁRIO líder em seu segmento (hoje instalações e terreno foram leiloados), ainda tinha o MOINHO DE TRIGO PARANAENSE. As instalações do SENAI para formação de mão de obra qualificada na rua Chile. Na rua Engenheiros Rebouças situam-se dois campos de futebol: o ESTÁDIO DURIVAL DE BRITTO (Campo do Clube Atlético Ferroviário – hoje Paraná Clube), construído para sede da copa do mundo de 1950 e o ESTÁDIO JOAQUIM AMÉRICO construído em 1924 (atual Arena da Baixada – Atlético Paranaense) totalmente reformulado para sede da copa do mundo de 2014. A primeira concessionária da Volkswagen também escolheu o Rebouças para suas instalações na Rua Chile. Ainda tinha a RECAPADORA DE PNEUS MAURER, a FÁBRICA DE CURITIBA (Instalação militar para confecção de artigos para os quartéis da 5ª Região Militar).
No início das manhãs milhares de operários e pessoal administrativo já andavam pelas ruas, misturados com centenas de crianças matriculadas nos grupos escolares, na ESCOLA TÉCNICA e no SENAI.
Na rua Marechal Floriano entre o ASILO NOSSA SENHORA DA LUZ e a Sete de Setembro tinha um comércio vibrante e variado. Qualquer coisa ali se encontrava: fogos de artifícios, artigos de caça e pesca, comércio de roupas, calçados, bares, restaurantes, pensões, peças para automóveis, etc. Era uma loja colada em outra. Para transferir um ponto, o valor das luvas variava de 5.000 a 50.000 cruzeiros. Conseguir um ponto era lucro certo.
Nos finais de tarde, saiam simultaneamente centenas de trabalhadores das fábricas, dos estabelecimentos bancários (seis grandes bancos disputavam a clientela) e do comércio. As ruas fervilhavam de gente como bandos de andorinhas voejando em época de verão. No fervo da Marechal Floriano bondes circulavam a todo instante fazendo “blemm”, “blemm”, “blemm”, “blemm”: eram os motorneiros dando alerta aos pedestres avisando de sua passagem.
O bairro, porém, não era só trabalho. Havia um cinema na Marechal Floriano quase esquina da rua Santo Antonio o nome era CINE FLÓRIDA, havia a SOCIEDADE UNIVERSAL com suas matinês dançantes bastante concorridas, a SOCIEDADE D. PEDRO II na Brigadeiro Franco, e a SOCIEDADE DE SARGENTOS E SUB TENENTES na Engenheiros Rebouças.
Havia as domingueiras tradicionais corridas no HIPÓDROMO DO GUABIROTUBA fundado em 1873 que abrigou eventos de grande porte. O ponto máximo foi o Grande Prêmio Paraná de 1954 com a presença da Miss Brasil Marta Rocha (que não foi aclamada miss universo por uma diferença na cintura de 2 polegadas). Outro evento curioso foi a primeira partida de futebol disputada no hipódromo entre as pistas de corrida, entre os descendentes de alemães e os operários e técnicos ingleses que estavam construindo a ferrovia em Ponta Grossa em 1908. Aí surgiu o Operário Ferroviário e em 1909 os descendentes de alemães fundaram o Coritiba Foot Ball Club.
Havia na praça Ouvidor Pardinho a Igreja Coração de Maria para atender a comunidade católica com missas de hora em hora.
Nas proximidades das fábricas e das lojas havia muitos vendedores ambulantes oferecendo as mais variadas e populares guloseimas como: pipocas, amendoim torrado, sorvetes e picolés, doces de leite e abóbora e outros petiscos próximos à PONTE PRETA.
O crescimento do bairro Rebouças criou novos bairros como o Capanema e adensou a população de outros como Uberaba, Vila Guaíra, Parolin, Vila Fani, Água Verde e outros.
O REBOUÇAS tem muita história! Seria importante preservar por exemplo as instalações da Fiat Lux, num espaço integrado de arte, cultura e gastronomia.
Hoje ninguém se atreve a fazer um prognóstico sobre o futuro reservado ao bairro. O local das instalações da gigante Matte Leão, foi adquirido pela Igreja Universal que está construído o maior templo Pentecostal de Curitiba e talvez do Sul do Brasil.
O Rebouças poderá renascer? Ou sucumbirá lentamente como um longevo em estado terminal degradando ano a ano dominado pelas drogas e prostitutas? Só o tempo dirá.
Texto escrito por Paulo Bond, leitor do JORNAL do REBOUÇAS e morador da região há 60 anos
Perfil do Bairro
– O Rebouças tem 5.813 responsáveis por domicílio e gente de todas as faixas salariais. Os dados são do IBGE.
– Tem uma das menores áreas verdes da capital – 0,95 m² por habitante. Mas ainda ganha dos vizinhos Parolin, Água Verde, Guaíra e Capão Raso.
– É apontado como um dos 10 bairros com mais abertura de estabelecimentos comerciais na capital. O Rebouças tem 1,4% do comércio da cidade.
O Rebouças tem praticamente dois carros por habitante – são 35 mil veículos, contra 27,9 mil no Água Verde e 19 mil no Portão – bairros com 30% a mais de população. Também é um bairro feminino – são 8,4 mil mulheres para 7,1 mil homens.
– O bairro tem em média 3,9 habitantes por domicílio. A região teve crescimento negativo nas décadas de 80 e 90, quando sua população baixou em 15 mil habitantes. Hoje tem crescimento de 0,33% ao ano. Os índices avançaram a partir de 2006, quando 1.117 unidades de construção foram autorizadas, sendo 977 residenciais e 140 comerciais.