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sábado, 27 julho 2024

Experiência com o filme fica mais completa, dizem espectadores surdos e cegos

George Clooney está observando um nascer de sol paradisíaco quando Julia Roberts sai de uma mata e vai ao seu encontro num começo de manhã em Bali. Os dois travam diálogo no meio de uma história em que irão retomar a paixão perdida 25 anos antes.

A cena faz parte da comédia romântica Ingresso para o Paraíso, sucesso recente que marcou nesta terça-feira (11/10) a ampliação dos recursos de acessibilidade do Cine Passeio, por meio de recursos tecnológicos de audiodescrição (para cegos) e tradução de Libras (para surdos).

A iniciativa da Fundação Cultural de Curitiba com apoio do Departamento dos Direitos da Pessoa com Deficiência representa um marco de inclusão para lazer e cultura na cidade.

Clooney e Roberts fazem parte do time das celebridades mais famosas do cinema. Seus rostos, vozes e cenas ganharam o mundo em diversas produções famosas. Mas para um contingente de pessoas com deficiência são – bem como todo o conjunto de atores e atrizes de produções audiovisuais – visualmente desconhecidos ou apenas parcialmente percebidos.

A partir de agora, cegos e surdos poderão desfrutar das histórias que passam no Cine Passeio, podendo escolher a sessão quiserem, do filme em cartaz que preferirem.

“É uma experiência realmente inclusiva, de interação social efetiva”, destaca Denise Moraes, diretora do departamento. “Isso é inclusão de fato.”

História por inteiro

Após a sessão de estreia, usuários destacaram que os novos recursos permitem que se usufrua mais e melhor da história contada no filme.

Veronice Ferreira, por exemplo, voltou aos cinemas depois de 8 anos de ausência (quando ficou cega).  Ela diz que era uma “rata de cinema” antes de perder a visão. Resolveu verificar as novidades do Cine Passeio e gostou do que presenciou.

“A gente ouve os diálogos [entre os personagens], e com a audiodescrição, entra na cena do filme. Eu sei o que assisti”, diz ela.

Já o advogado cego Roberto Leite, destacou a qualidade técnica da audiodescrição. Segundo ele, as cenas são descritas na medida necessária para sentir o cenário da cena, sem excessos.

“Tem coisa que não é informação [útil] é ruído”, disse, baseando-se em outros programas que fez usando recursos de audiodescrição.

Ele vê o serviço agora disponível como um grande diferencial. “É um nível maior de inclusão”, diz, sobre escolher a sessão e a que filme assistir.

Cego desde 2008, ele compareceu ao cinema acompanhado de Dexter, seu recatado cão-guia que acompanhou toda a sessão em completo silêncio.

Surdos

No caso dos surdos a dinâmica é outra, e o equipamento também foi desenvolvido para contemplar as particularidades de comunicação desse grupo.

Equipamentos individuais, com baixa luminosidade e acoplados no campo de visão da tela, trazem a tradução em Libras.

A Língua de Sinais é um recurso importante porque entre os surdos há diferentes níveis de domínio da gramática do Português e do acompanhamento de legendas nos filmes.

Isso acontece porque para muitos – principalmente dos que nasceram ou ficaram surdos na infância – a alfabetização ocorre em Libras, não em Português tradicional. Ou seja, a relação entre as línguas é diferente da dos ouvintes.

Nesses casos a tecnologia também permite aos surdos desfrutar melhor das histórias.

A pesquisadora Noemi Gonçalves da Silva, surda desde um ano e meio de idade, conta que consegue acompanhar parte das legendas tradicionais dos filmes, mas perde trechos. “Com Libras, pego todo o contexto do filme”, diz.

Para Janaína Canavaira de Lima, que nasceu surda, a “experiência fica mais completa” com o aparelho de Libras ao lado.

Cine Passeio

O cinema da Prefeitura também conta com toda estrutura de rampas, elevadores e espaços reservados nas salas para cadeirantes ou pessoas com dificuldade de locomoção.

Todo o pessoal de atendimento passou por capacitação especial para encaminhar da melhor maneira os novos usuários surdos e cegos que devem comparecer ao local.

E o filme?

Além de terem gostado da iniciativa, os usuários entrevistados após a sessão concordaram em outro ponto: gostaram do filme.

“Adoro um romance”, resumiu Veronice, em vias de voltar a ser “rata de cinema”.

George Clooney e Julia Roberts, agora, tem um público um pouco mais amplo em Curitiba.

A programação regular pode ser conferida no site do Cine Passeio.

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