Quando acordei, olhei pela janela e pensei estar na Flórida(risos)! Delírios pós-sedação!
Nunca fui lá, mas me encantei com o sol pintando na janela coqueiros, prédios laranja,
verdes montes! Havia um som poético (café-com-pão, café-com-pão, café-com-pão) de um trem carioca que tocava os trilhos da estação de Cascadura. Eu fora extubado, eu estava vivo!
Eu, Jarbas, 62 anos, fora acometido de COVID em estado gravíssimo, pulmões contritos, lutado contra duas bactérias, mas agora estava ali, em um quarto mediano e frio, observado por um monitor multiparâmetro de sinais vitais, alimentado de soro e antibióticos, atado à cama por tiras ferozes, de volta à vida! Tudo estava calmo.
Os “anjos” do hospital me sorriam, me alimentavam, me limpavam, me drogavam,
me tiravam o sangue… me ajudavam a VIVER! Volta e meia voltava à janela o olhar ainda sedado e tentava refazer o meu mundo distante do mundo externo… “Myrian!”, chamava,
clamava, gritava eu pela minha esposa.
Ela não estava lá, não podia estar lá, ninguém podia estar lá, só os “anjos”; e os de Deus eu tinha certeza que sempre estiveram lá.
As notícias externas me chegavam por uma 32 polegadas, eram as estatísticas fúnebres da pandemia. Criteriosos, os analistas colocavam os números dos infectados, dos mortos, dos
em tratamento… e também dos curados… eu também era um número. Um número entre milhões. Não perguntei a Deus o porquê do meu “calvário”, mas confiei plenamente n’Ele todo o meu tempo de “via crucis” naquele lugar de batalha campal entre os “anjos” e
a morte.
Cuidei-me, mas mesmo assim fui pego; fui pego, mas mesmo assim
fui salvo! Mudei o meu olhar. Dava importância para o número de infectados
e de mortos, todavia agora eu também era um número, e um número
CURADO! Não lutava pela minha vida, isso o corpo faz involuntariamente,
lutava para não esmorecer a minha fé em Cristo! Via em cada funcionário
a mão de Deus, e cada um deles colaboraram para que eu não sucumbisse.
Vi-me dentro da estatística macabra como uma flor no pântano dizendo: eu
floresci!
Hoje, olhando o céu, lembro-me de quão fundo eu desci, contudo voltei
à superfície, voltei a minha casa, voltei para minha família, voltei à vida. E
olhando em volta, vejo quantas pessoas foram comigo ao vale das trevas, quantas
me ampararam, quantas sentiram a minha dor. E o meu olhar de gratidão
a todas dirige-se até os altos céus para que o Senhor as abençoe, pois só Ele
pode recompensar rica e divinamente a todos que me ajudaram a ver a vida
novamente!
DEUS seja louvado!